O transtorno de borderline é um dos mais lesivos às pessoas. A doença leva a episódios graves de automutilação, agressões físicas e abuso de substâncias como álcool, drogas ou remédios.
Quem sofre do transtorno de borderline vive em uma montanha russa de emoções: uma alegria contagiante pode se transformar em uma tristeza profunda em segundos. O amor vira ódio porque uma atitude foi interpretada errada. Depois de tudo isso, ocorre uma sensação de culpa e raiva.
Quem possui borderline tende a viver a base do “tudo ou nada”. Isso deixa desgastante as relações familiares, amorosas, amizades e até mesmo o relacionamento com os médicos.
As atitudes de quem possui borderline lembram os jovens mimados que não têm tolerância às frustrações. Mesmo que os adultos sejam inteligentes e brilhantes no que fazem, eles reagem de forma exagerada ao se relacionar com os outros, dando a impressão que as pessoas possuem um ego imaturo. A doença é séria e, muitas vezes, fica camuflada como como bipolaridade, depressão e dependência de álcool, remédios ou drogas.
O que é o transtorno de borderline
O transtorno de borderline é uma maneira de ser, sentir, perceber e se relacionar com os outros que foge completamente dos padrões e causa sofrimento para a própria pessoa e quem está ao redor. Enquadrar um paciente dentro desta categoria é um grande desafio.
O termo, “borderline“, em inglês, significa “fronteiriço”. A palavra teve origem na psicanálise e define os pacientes que não podem ser classificados como neuróticos (ansiosos e exagerados), nem como psicóticos (pessoas que enxergam a realidade de forma distorcida). Quem está dentro do transtorno de borderline está no meio deste dois espectros.
Sintomas do transtorno de borderline
Para ser diagnosticado com borderline é necessário auxilio médico e tratamento. No entanto, alguns dos principais sintomas, são:
- Esforços para evitar o abandono (real ou imaginário): pessoas que possuem borderline lidam mal com situações como o fim de um namoro ou casamento e até mesmo com casos corriqueiros, como atraso de um médico ou cancelamento de um encontro. Para elas, tudo isso é um sinal de rejeição.
- Relacionamentos instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre os extremos de idealização e desvalorização: quem convive com alguém que possui borderline tem que ser perfeito ou passa a ser depreciado. Por exemplo, se um terapeuta desmarca uma consulta, de “melhor psiquiatra do mundo”, passa a ser um “profissional sem escrúpulos”. Os familiares, que são um porto seguro, deixam de ser procurados quando não atenderam a um pedido ou capricho. É comum que uma pessoa diagnosticada com borderline fique íntimo de alguém rapidamente, alimente expectativas e depois caia em frustração.
- Perturbação de identidade e depreciação persistente de si: a interpretação dos atos dos outros modela a imagem que o paciente de borderline constrói para si. É comum a pessoa falar coisas como “tenho o dedo podre para relacionamentos”, “sou louco(a) e ninguém me aguenta” ou ainda “as pessoas se afastam de mim porque sou uma pessoa ruim”. Quem sofre deste mal tenta se adaptar à quem está ao redor de forma quase desesperada, trocando crenças, valores, carreira ou visual em pouco tempo apenas para ser aceito.
- Comportamento impulsivo e autodestrutivo: com o objetivo de diminuir as sensações de vazio e rejeição, é comum que a pessoa busque soluções de alívio imediato. Isso pode ser traduzido em compras, abuso de álcool e drogas, direção perigosa, compulsão alimentar ou relacionamentos (a sensação de ser amado ou aceito pode ser um vício)
- Instabilidade afetiva: quem sofre transtorno de borderline vive emoções extremas em pouco tempo. Momentos de prazer e alegria dão lugar à depressão e ansiedade em segundos. Uma paixão intensa se transforma em indiferença e desprezo em pouco tempo.
- Sentimento crônico de vazio: é comum a pessoa buscar algo diferente na tentativa de aliviar o tédio. Esse vazio também pode ser manifestado como desinteresse, falta de propósito e não é incomum a pessoa largar curso, emprego ou relacionamentos de forma repentina.
- Raiva intensa e descontrolada: a pessoa se irrita com facilidade e suas reações são desproporcionais. É comum se envolver em agressões físicas com o parceiro amoroso, filho e até mesmo desconhecidos. Depois vem a culpa que só reforça a autoimagem negativa.
- Paranóia transitória: em situações de estresse, a pessoa pode achar que é alvo de conspirações (paranóia) ou então perder o contato com a realidade. No entanto, diferentemente de outras doenças como esquizofrenia, esses sintomas são transitórios.
Como é feito o diagnóstico
Não existem exames específicos que permitem o diagnóstico. O indivíduo é avaliado por um profissional de saúde mental que irá analisar seu histórico e seus sintomas. É importante diferenciar o transtorno de borderline de outras condições mentais, efeitos de drogas e problemas de identidade comuns na adolescência.
O que pode causar o transtorno de borderline
Assim como ocorre em transtornos de personalidade, não existe uma causa para o transtorno de borderline. Os especialistas apontam fatores de risco que aumentam a possibilidade de desenvolver o quadro. Os mais comuns são:
- Hereditariedade: o transtorno de borderline é cinco vezes mais comum em parentes biológicos de primeiro grau que apresentam doenças mentais ou possuem histórico de abusos de substâncias.
- Problemas ambientais: abusos físicos ou sexuais, negligência, conflitos e falecimento de parentes próximos são alguns itens comuns de quem sofrem com transtornos de personalidade.
- Abuso de drogas: uso de substâncias como álcool ou drogas podem acentuar o quadro.
- Lesões cerebrais: quem já sofreu algum trauma pode ter predisposição a desenvolver a doença.
Tratamento
Quem sofre com o transtorno de borderline precisa de auxílio médico com extrema urgência. Medicamentos ajudam a aliviar os sintomas depressivos, agressividade e o perfeccionismo exagerado. No entanto, o tratamento deve contar com uma equipe multidisciplinar, montada de acordo com a necessidade de cada pessoa. Isso pode exigir terapia, psiquiatria, enfermeiros e até nutricionistas.
Ainda que o tratamento faça diferença e traga qualidade de vida, não dá para dizer que o transtorno de borderline irá desaparecer de forma definitiva. Os especialistas costumam falar em “pequenas curas que se somam”. Ao realizar o tratamento, a pessoa começa a ficar mais estável, com mais tolerância à frustração, capacidade de controlar seus impulsos e refletir melhor sobre suas atitudes.
É importante salientar que o tratamento leva tempo e o apoio dos amigos e familiares é fundamental ao processo.